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obnubilado

Blog que ainda existe, apesar do tempo.

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Literatura x Cinema

Alan Moore detonando em entrevista à revista Trip (bem antigo, mas só agora eu li):

 

Quando você lê um livro e dá vontade de tomar chá, por exemplo, você deixa de lado o livro, e vai tomar a sua xícara de chá. Se quiser voltar algumas páginas para lembrar de algo que foi dito páginas atrás, você pode fazer isso. O leitor é que tem que fazer todo o trabalho. Quando lê um livro, o que você faz é decodificar esses arranjos de vinte e seis palavras numa página, por exemplo. Você tem que criar uma imagem para todos os personagens. É capaz de imaginar as vozes deles. Você está conjurando um mundo inteiro, e o está fazendo sozinho. O trabalho é seu. O leitor está contribuindo para ter uma experiência. Não é o caso nos filmes. Você está lá sentado na sua cadeira, e o filme segue, correndo a, sei lá, 24 frames por segundo. A máquina está fazendo todo o trabalho por você. Está tudo pronto. Não precisa imaginar como tal personagem vai se parecer ou como é que ele vai soar. Porque o camarada ali na tela vai sempre se parecer exatamente como o Jack Nicholson, e aquele outro personagem lá vai falar exatamente como um ator qualquer... É negada a chance de ter uma imagem na cabeça. Você tem as possibilidades negadas. Você não está apto a contribuir ao filme, sua imaginação é simplesmente freada e é substituída pela imaginação de quem o fez. Eu tenho esse incômodo com adaptações de cinema. Quando você tem um público que cresce ao redor do cinema, há esse problema dos jovens que absorvem arte apenas se ela vier por uma tela. Isso encoraja à preguiça. Muitas das pessoas que vão ao cinema não precisam se preocupar em ler o livro, porque, obviamente, o livro é muito mais difícil, exige muito mais experiências do que apenas ficar sentado no cinema com uma tigela de pipoca no colo por 90 minutos... É por isso que me incomoda tanto essa coisa das adaptações.

 

Nunca li nenhuma das graphic novels do Alan Moore (quadrinhos, rapaziada, quadrinhos), mas sempre achei interessantes. E o coitado que detesta adaptações cinamatográficas não pode fazer nada quanto aos filmes tirados de seus trabalhos, pois a maioria não está mais sob sua posse, por isso seu passatempo preferido é falar mal dos estúdios, da DC Comics, do cinema e do mundo civilizado ocidental.

 

Agora sairá Watchmen, que, dizem, redefiniu o conceito de revista de super-herói a partir do fim da década de 80. Não conheço, nesta época eu lia Turma da Mõnica e Pato Donald, e mais tarde fui ler X-men, com resultados mentais muito bons, como podem perceber.