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obnubilado

Blog que ainda existe, apesar do tempo.

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Ah! Era o primo!

Peguei O Primo Basílio para ler sem muito convicção. Nunca tive grandes vontades de lê-lo, apesar de sempre ter tido vontade de ver a minissérie que a Globo produziu no final da década de 80. Mas peguei o livro. Já que o Daniel Filho fez o filme agora, com aquele cartaz horroroso, eu queria ler para poder falar mal da direção, do roteiro e da Glória Pires.
Contuto, eis que me espanto. O livro é maravilhoso. Poderia dizer "delicioso". Só ri mais lendo livros do Luís Fernando Verissimo. Mas era um riso diferente, claro. O Primo Basílio não é engraçado, embora seja às vezes. Ele é, sim, delicioso. Rio muito de contentamento. Um riso que livros do Faulkner, por exemplo, não abarcariam, apesar de serem geniais e contentadores na mesma medida; mas não são deliciosos.
A empregada Juliana, sem dúvida, é o grande personagem de todos. O capítulo dedicado a ela é tão bom que de repente passamos (eu passei) a detestar os donos da casa e o primo e a simpatizar com a maldade, a mesquinharia e a falta de caráter da serviçal.

"A necessidade de se constranger trouxe-lhe o hábito de odiar; odiou sobretudo as patroas, com um ódio irracional e pueril. Tivera-as ricas, com palacetes, e pobres, mulheres de empregados, velhas e raparigas, coléricas e pacientes; - odiava-a todas, sem diferença. É patroa e basta! (...) Cada riso delas era uma ofensa à sua tristeza doentia; cada vestido novo uma afronta ao seu velho vestido de merino tingido. Detestava-as na alegria dos filhos e nas prosperidades da casa. Rogava-lhes pragas. (...) Com que gosto trazia a conta retardada de um credor impaciente, quando pressentia embaraços na casa! "Este papel!" - gritava com uma voz estridente - "diz que não se vai embora sem uma resposta!" Todos os lutos a deleitavam - e sob o xale preto, que lhe tinham comprado, tinha palpitações de regozijo. Tinha visto morrer criancinhas, e nem a aflição das mães a comovera; encolhia os ombros: "Vai dali, vai fazer outro. Cabras!""

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