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obnubilado

Blog que ainda existe, apesar do tempo.

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Flying saucers in the sky – PARTE 1: o que que ele disse agora?

Não dá para dissociar um espetáculo do local onde ele acontece. Um show do Charlie Brown Jr no Theatro São Pedro é algo difícil de ser imaginado e não creio que resultaria em resultados satisfatórios para a platéia, louca para pular e empurrar uns aos outros. Assim também fica meio deslocado um show do Caetano Veloso num lugar que podemos definir como “um galpão”.

Num show de rock, o Pepsi on Stage funciona bem. Estive lá quando ainda não tinha sido arrebanhado pelos refrigerantes, vendo Placebo. Um espaço bom, decente, arrumadinho. Depois de comprado e reformado, achei que estivesse mais apropriado para receber qualquer tipo de espetáculo. Ledo engano. Continua sendo algo para roqueiros, ou qualquer um que faça um barulho alto e constante. Não para Caetano Veloso.

Comecemos pelo problema maior: não tem clima. Clima é importante para que haja catarse, ou seja lá o que for, para te levar para dentro daquele universo musical e te tirar do mundo onde a mulher ao lado não pára de falar sobre seu celular Vivo. Lá, isso não aconteceu. Se tivesse acontecido, até a mulher tinha parado de falar e tinha prestado atenção no show. Mas nada enganchou ela, nada prendeu sua atenção realmente, nem a minha, nem a das pessoas à minha volta.

O espaço é enorme. Isso é bom, talvez, só que há mais espaço do que palco. Se você não fica bem na frente, tudo em volta atrapalha tua atenção: os letreiros, os bares (são três), as estruturas de metal, o teto de amianto, o garçom de gravata borboleta carregando caixa de isopor... tudo desconcentra. O galpão fica mais importante do que o palco, e isso é péssimo.

Mas por que foi feito lá, então?, alguém perguntaria. É que o Caetano lançou , um disco com espírito roqueiro, e tem feito shows com pista (mais barata), não apenas com cadeiras. Só que, geralmente, como até Bento XVI sabe, pista fica na frente, perto do palco. Aqui em Porto Alegre inovaram e deixaram a pista atrás. Eu fiquei na pista (e isto define minhas opiniões – se eu estivesse no setor A eu não teria muito do que reclamar, óbvio). Tinha uma visão direta para o palco até, só que muito distante. O lugar é grande mesmo, quem fica atrás, mesmo que não tão atrás, vê mais logotipos da Pepsi do que Caetano Veloso.

mapa_pepsi.jpg

Isso é normal, diriam. Sempre há pessoas atrás. Sim, claro. Mas geralmente as pessoas atrás escutam bem. Não era o caso lá. O som era ruim, bem ruim. Vinha só de frente, lá do palco, fazendo com que, num volume normal que não aturdisse as primeiras fileiras, chegasse abafado na pista. Ou seja: quando ele falava, ninguém que estava em pé escutava. Quando ele cantava músicas calminhas, não se entendia direito. Então, a dispersão da metade da platéia para trás era geral.

Outro problema: costuma-se pensar em pista como um lugar para dançar, pular, gesticular, mesmo que não seja num show do Charlie Brown. No entanto, com a pista afastada, ninguém tem vontade de fazer isso, porque parece algo deslocado, perdido no espaço. E os indivíduos nas cadeiras são acomodados e tímidos demais para fazer algo do tipo com empolgação. Então, o show ficou meio mortinho, assim, sem graça. Teve momentos que eu pensei que o Caetano ia parar tudo e dizer “ok, eu desisto”, mas talvez ele não estivesse percebendo tanto quanto eu.

Também levemos em consideração que os telões não funcionaram. Passaram, sim, repetidamente, um comercial horrível de um cara de terno fazendo compras no Nacional com uma cestinha verde, mas na hora do show, pifou. Apareceu um minuto de imagens, duas vezes, e nada mais. Isso significa que, para apreciação, estava pior do que um DVD visto em casa.

Ah, e a lotação estava empobrecida (o que não deixa de ser estranho - talvez porque já previssem o desastre logístico). Digamos que um quinto, ou mais, das cadeiras estavam vazias (quem pagou pro setor C ficou feliz e pôde passar pro setor B tranqüilamente), assim como boa parte da pista.

Essa apreciação de um galpão com lugares vazios (feio, feio, feio e triste, visto de trás), pessoas andando do bar pro banheiro, conversando durante as músicas, me deu a sensação de final de festa, quando quem está lá ficou só pra não sair antes da hora, mas já está louco pra ir pra casa.


(continua...)

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