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obnubilado

Blog que ainda existe, apesar do tempo.

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Blog que ainda existe, apesar do tempo.

Ótimo texto

Texto de Antonio Prata


Ditadura Gay

 

“Você é a favor da aprovação do projeto de lei (PLC 122/2006) que pune a discriminação contra homossexuais?” Desde que a enquete apareceu no site do senado, faz umas semanas, evangélicos de todo o país iniciaram uma cruzada via internet, pelo direito de ofender pessoas que namoram pessoas do mesmo sexo.

Uma senhora chamada Rosemeire, por exemplo, expondo num blog seu temor de que a lei seja aprovada, disse que vivíamos “O início da Ditadura Gay no mundo!”. Pelo que entendi, Rosemeire acredita que está em curso uma batalha global, travada entre héteros e homossexuais, pela hegemonia na Terra. Hoje, os héteros estão vencendo, mas é só porque têm amparo legal para chamar os gays de viadinhos, as lésbicas de sapatonas e rir das piadas do Juca Chaves. No momento em que passarem a punir quem ofender pessoas que namoram pessoas do mesmo sexo, elas perceberão que chegou a hora, sairão todas correndo da The Week e tomarão o poder.

Imagine só, Rosemeire? Criancinhas terão de cantar Village People, na escola, enquanto assistem ao hasteamento da bandeira do arco-íris. Aos domingos, em vez de futebol, as TVs transmitirão Holiday on Ice e, com dezoito anos, os jovens serão obrigados a alistar-se no exército, fazer flexões de braço, dormir e tomar banho, uns na frente dos outros. Que horror!

Se você acha que Rosemeire exagerou, é porque não leu o blog de Rozângela Justino, cristã, psicóloga e indignada: “Se este Projeto (...) for aprovado, estaremos institucionalizando em nosso país o sistema de castas e todos aqueles que não forem homossexuais serão considerados cidadãos de segunda classe.”

Uau, Rozângela! O mundo, então, seria governado pela casta das Drag Queens? Um advogado gay, de terno e cabelo curto, seria de uma casta intermediária? E lutadores do Ultimate Fighting, viveriam de esmolas? Bem, talvez não...

Quanta imaginação têm as duas mulheres. Se seus piores pesadelos fossem filmados, seria preciso unir o talento de um Fellini com o de um Clóvis Bornay; juntar, no mesmo caldeirão, George Orwell e Andy Warhol; vislumbrar as ruas de Nova Déli sendo percorridas pela banda de Ipanema.

Se bem que... Sei lá. Pensando melhor, talvez o temor de Rosemeire e da Dra. Justino tenha algum fundamento. Veja o caso dos negros: há poucas décadas, todo mundo contava piada racista e eles eram cidadãos de segunda classe. Veio esse papo de igualdade, o que aconteceu? Um mulato chegou a presidente dos Estados Unidos!

A batalha racial já está perdida, mas a sexual ainda pode ser ganha! Basta ir ao http://www.senado.gov.br/agencia/default.aspx?mob=0, clicar em NÃO e mostrar a todos que ainda tem gente disposta a lutar por um mundo injusto, desigual e preconceituoso!

Esse lance de ler

Estava cá lendo a revista Men's Health do mês passado, pois queria só saber do que tratava a matéria cuja chamada na capa é "Soja: fuja dessa cilada". O texto é traduzido da versão americana (imagino) da revista, e traz como imagem de abertura um homem com cara de assustado vestindo um sutiã de soja. Isso porque, segundo a matéria, homens que comem soja tem sério risco de desenvolver seios e ficar impotentes. Todo o texto é cheio de "talvez", "se", "provavelmente", "isso não prova causa e efeito" e outros poréns que completamente desabilitam toda a matéria, mas fingiram que não perceberam. A reportagem começa falando de James Price, um homem que teve ginecomastia (aumento significativo dos seios, como o Bob de Clube da Luta) e ficou com o pênis completamente flácido e depois de vários exames descobriram que ele tinha altos hormônios femininos no sangue e associaram isso ao leite de soja que ele tomava: três litros por dia! Ora, se eu tomar 3 litros de qualquer coisa por dia, com certeza vou ter alguma reação. Ainda mais se - e isso não é sequer sugerido na matéria - se for feito com produto transgênico e com conservantes/aditivos químicos na composição.

Mas, como disse uma das integrantes do Studio Pampa, "é bacana esse lance de ler". Além de revistas picaretas tenho lido algumas coisas boas também. Mês passado acabei de ler "O som e a fúria", do Faulkner, que me rendeu várias semanas de sufoco intelectual, mas que no fim foi uma grande e incomparável experiência literária. Depois peguei na biblioteca "Cartas de um sedutor", da Hilda Hilst, que me surpreendeu com a linguagem quase pornográfica que ela usa (é uma das obras que compõe a sua trilogia obscena), e com a interesessante idéia de narrativa, embora o fato de ela se colocar demais nas idéias do narrador que não é ela me desagradou por vezes (Philip Roth, por exemplo, faz isso com muito mais sutileza).

Enfim, comprei dois livros de fotografia. Um deles, "The seventies in pictures", tem, obviamente, imagens mostrando momentos marcantes dos anos 70, com um pequeno texto dando informações básicas sobre o assunto. Já aprendi várias coisas sobre história contemporânea. Nem todas as fotografias são exatamente muito boas, e nenhuma tem o nome do fotógrafo, apenas o crédito para o banco de imagens (o que é terrível), mas não deixa de ser, quase sempre, bastante interessante.

O outro é "Cartas a um jovem fotógrafo", do Bob Wolfenson, que recém iniciei a ler e não tenho nada para falar a respeito por enquanto.

Michael Jackson é assunto - Mallika, Daphne e Grace

No sábado seguinte à morte de Michael Jackson, o Times de Londres publicou uma espantosa entrevista com a ex-babá dos filhos do cantor, Grace Rwaramba. Espantosa não só por causa de seu conteúdo inimaginável, mas pela casualidade de a babá estar hospedada junto com a repórter na cidade, já preparando uma matéria que sairia mais tarde, provavelmente por ocasião dos shows de MJ, quando Michael morreu (a entrevista começa mesmo descrevendo como a babá adentrou o bar onde estava a jornalista, gritando “Daphne, Daphne, Michael is . . . Michael is . . . dead!”).

Eu li a entrevista no site do jornal e resolvi salvar para consultar depois. Fiquei surpreso ao tentar encontrar on line o texto alguns dias depois e não conseguir encontrar, e tudo o que linkava à reportagem não funcionava.

Como eu achei a entrevista interessantísima e queria dividir com os interessados, resolvi postá-la aqui no blog, para alguém que por ventura procurasse pudesse encontrar.

Agora que vim fazer isso eu soube de coisas.

A entrevista fez vozes levantarem contra a titude da babá, de expor daquele jeito a vida do artista que ela ajudava a preservar até algumas semanas antes (ela trabalhou para MJ por 17 anos). Acusaram-na de oportunista, gananciosa, exploradora, apontaram o dedo dizendo que ela obteve dinheiro da jornalista para conceder a entrevista etc.

Pois eis que vem Mallika Chopra e muda o contexto. Neste texto, a autora, que é filha de um amigo de Michael Jackson e amiga de Grace Rwaramba, descreve o que aconteceu: a má fé da jornalista Daphne Barak, e ingenuidade da entrevistada. Chopra fala da descontextualização de declarações e da invenção de outras, como o famoso trecho em que a babá diz que massageava o estômago de MJ quando ele tomava remédios demais (mais tarde, a babá declarou: "I am shocked, hurt and deeply saddened by recent statements the press has attributed to me, in particular, the outrageous and patently false claim that I 'routinely pumped his stomach after he had ingested a dangerous combination of drugs.' I don't even know how to pump a stomach!!"), além do mal caratismo (pelo que se depreende das situações descritas) da "vampira sugadora de celebridades" Daphne Barak, como a define um outro jornalista, Roger Friedman (o mesmo que foi demitido da Fox por ter feito uma crítica do filme Wolverine baseado em uma cópia pirata, mas isso é outra história).

Em vista disso tudo, agora eu desconsidero a entrevista publicada pelo Times. Mesmo que a maioria das coisas que a tal Daphne escreve tenha sido dito pela babá, agora tudo ficou sob suspeita e perdeu a graça.

E por que estou falando de Michael Jackson, e não do meu vizinho ou da minha avó? Recomendo a leitura deste texto: Michael who?

 

Michael Jackson, Barrichello, Courtney Love e o gorila

Andei lendo todas as notícias depois da morte do Michael Jackson, e achei deveras interessante que ele tenha escrito uma música sobre o remédio que provavelmente o matou (divinamente recitada pela repórter do jornal Nacional: “Demerol, Demerol / Oh, Deus, ele está tomando Demerol!"), que ele tinha a intenção (dizem) de deixar as músicas dos Beatles em testamento para Paul McCartney, que ele tenha queimado boa parte do cabelo durante a gravação de um comercial da Pepsi em 1984, que ele comprou a ossada do homem-elefante e várias outras idiossincrasias.

Enquanto me incluía neste mundo de ser-humano além do normal, vi esta materinha: Elizabeth Taylor fala sobre a morte do amigo Michael Jackson no Twitter. A atriz costumava ser vista freqüentemente com o cantor, antes de ela ficar debilitada demais. O que me espantou foi o fato de ela fingir escrever no Twitter. Digo fingir porque com certeza ela não faz isso, alguém teve esta idéia muderrrna, que combina muito com uma senhora de 77 anos que tem corpinho de 99, com algum propósito que desconheço (foi o assessor de imprensa? O cardiologista? O neto? O bisneto?). Talvez alguém vá até a cama dela e pergunte “Vovó, o que a senhora acha de o Michael ter morrido?”, “Ai, Jefferson William Taylor Jr, eu acho de última!”, e ele então faz 3 ou 4 posts dizendo coisas como "Não pode ser assim. Ele vai viver para sempre no meu coração, mas não é o bastante. Minha vida parece tão vazia".

Na mesma página, outros posts no Twitter de celebridades lamentando a morte de Michael. Jane Fonda (assessor de imprensa? O cardiologista? O neto? O bisneto?), Demi Moore (o marido?), Miley Cirus, Maria Rita, entre muitos. O que se destaca é o pequeno texto de Rubens Barrichello. Diz assim: “ola gente...que chato esta historia do Michael Jackson. era um grande...fui no show dele em Sao Paulo”.

Desta vez o que me espanta não é o que ele escreve. Porque certamente ele não tinha mais nada para dizer e não ficou inventando, que nem os outros, que dizem coisas como “ele era uma lenda”, “minha inspiração de vida” etc., quando provavelmente nem sabem de nada do cara. O que desta vez me espanta é alguém ter coletado isso no Twitter e ter colocado no meio da materinha do G1, como se fosse grande coisa. Michael Jackson diria: “They don’t care about us”.

Daí fui, por obra do destino, visitar O Fuxico. Abri uma materinha sobre a Courtney Love, que apareceu esquálida em algum lugar. No fim da página tinha algumas manchetes de materinhas anteriores sobre ela. Na mais antiga dizia assim: “Mickey Rourke está namorando Courtney Love”, na mais recente dizia: “Mickey Rourke diz que prefere namorar gorila a Courtney Love”.
 

O incrível Hulk

Tinha até já colocado no ar o segundo emocionante capítulo de minha saga quando tomei conhecimento do texto do Luciano Huck publicada na Folha de São Paulo e de toda uma repercussão negativa que ele teve, pois pessoas várias ficaram dando chilique só porque ele é rico e reclamou do assalto e da violência e coisa e tal.

Não vou fazer considerações importantes a respeito, pois tenho horror de me fazer de sabido e discutir assuntos sérios com seriedade pernóstica. Mas vou deixar um link para quem quiser baixar o conteúdo do artigo dele e de sua entrevista na Veja desta semana, cheia de considerações que eu achei relevantes, e que podem falar por si próprios, sem eu precisar dar pitacos furados.

Aperte aqui para baixar e ler, já que os textos são restritos a assinantes nos respectivos sites.

Xuxa roda a bolsinha

Comprei um Diário Gaúcho para espairecer. Como um todo, o jornal está cada vez mais vomitável, no entanto às vezes tem uma ou outra matéria muito interessante. Infelizmente as coisas interessantes resultam em matéria superficial, quase sempre repleta de gírias e tendo fotos de novela como referência.

Neste que eu comprei, do dia 27 de abril, havia uma matéria sobre as prostitutas que ficam na volta do Mercado Público, aqui em Porto Alegre. O objetivo era fazer uma comparação entre a vida real das profissionais e a atuação de Camila Pitanga, como a garota de programa da novela. Obviamente o dia-a-dia das prostitutas da Praça XV não tem nada a ver com a novela da Globo, mas a matéria, escrita por Lis Aline Silveira, traz perfis dessas mulheres que eu achei muitíssmos interessantes e resolvi reproduzir. O primeiro deles é da Xuxa:


Xuxa tem 29 anos e é prostituta nas imediações do Mercado há dez. Moradora de cachoeirinha e mãe de três filhos, seu marido encontra-se no Presídio Central. No dia 17, ela chegou ao Mercado pelas 13h30min. O primeiro dos quatro programas que fez naquele dia rolou às 14h30min. Todos foram realizados em um hotel próximo, no qual 30 minutos saem por R$ 6. O cliente era um idoso, aliás o tipo preferido pela prostituta.

- Gosto dos velhinhos porque não são agressivos e pagam direitinho.


Outro texto fala da Mineira:


Mineira, 26 anos, há nove anos no Mercado Público, tem uma dificulade extra como prostituta: é lésbica. Ela vive com uma namorada há quatro anos e aprendeu desde cedo a separar a rotina de trabalho com a de casa.

- Trabalho com homens, mas sou casada com uma mulher. Levo no profissionalismo a transa com eles.

 

Ler mais... )