Pela segunda vez no ano fui a São Paulo participar de um congresso de fotografia. Desta vez foi o Estúdio Brasil, também no Memorial da América Latina. Aproveitei para conhecer mais a cidade - especialmente o centro, onde eu não havia ido da outra vez - e tentar fazer algumas compras (80% das lojas na 25 de Março não acaitam cartão, daí ficou difícil).
Aproveitando os ensinamentos que o fotógrafo Blake Disher passou no congresso sobre otimização de websites, estou colocando no ar meu novo domínio: www.enfoto.com.br e provavelmente vou passar a usar aqui este blog para colocar alguns links de trabalhos e páginas novas do site.
Por enquanto o site está só com a página inicial, mas estou trabalhando na nova estrutura - que deve levar um bom tempo.
Quem tem sua profissão ligada ao trabalho intelectual (fotógrafos, ilustradores, escritores etc etc etc...) certamente já ouviu (ou vai ouvir em breve) uma proposta "tentadora" de fazer um trabalho de graça em troca de divulgação ou com a promessa de trabalhos futuros. Tudo bobagem (divulgação de crédito de autor é obrigatória por lei, e trabalhos futuros não pagam o teu trabalho presente - principalmente porque quem vem com proposta como essa da próxima vez vai procurar outro que também faça de graça com as mesmas promessas).
Pois eis aqui um belo depoimento de escritor Harlan Ellison sobre o assunto. É um vídeo em que ela fala da proposta que fizeram para ele ceder os direitos de uma entrevista sua para a edição de um DVD da série "Babylon 5".
Eu coloquei o inútil texto anterior porque fiquei mais de uma hora procurando uma foto interessante de algum fotógrafo decente e não consegui achar nada que me agradasse. Pois ontem acabei conhecendo esta imagem magnífica, vencedora do prêmio Shell Wildlife Photographer of the Year na categoria "Animal Portrait". Sobre ela o fotógrafo Sergey Gorshkov disse:
"Eu estava tão ocupado fotografando os salmões no Rio Ozemaya, no oeste da Rússia, que não percebi a aproximação do urso até que ele estivesse a um metro de distância. Foi um choque terrível. Me mantive calmo o suficiente para fotografar mas apenas depois eu percebi como a situação tinha sido séria."
Clique nela para ir no site do prêmio e poder vê-la maior.
Como não só de tarados vive o Obnubilado, satisfaço agora aqui a curiosidade de quem entra no blog procurando fotos de antes e depois do Photoshop. Ia colocar retratos, mas meu senso de privacidade não permite expor pessoas que foram photoshopadas por mim ao grande público. Então, aí um simples exemplo de recuperação de sombras. Com 30 minutos fiz isso. E fiz em 30 minutos porque é pra ser usada na internet. Se fosse para impressão, demoraria muito mais (além de uma hora), afinal teria que retocar detalhes. Quando mexi na foto para ser impressa, ano passado, devo ter demorado em torno de uma hora e meia, mas hoje fui usá-la e não fiquei satisfeito, então comecei do zero. Estou construindo uma parte do meu site dedicada apenas a casamentos, como eu tinha no meu site antigo. Tem havido procura o suficiente para me motivar a gastar algumas horas perdido nisso.
O primeiro é Bilal Hussein (sim, realmente é um nome engraçado). Ele fazia parte da equipe da AP que ganhou um prêmio Pulitzer por sua cobertura das coisas iraquianas. Pois ele foi preso há mais e um ano no Iraque por tropas norte-americanas, que o mantém inacessível em uma prisão, sem acusações formais. Há um abaixo-assinado (achei que só brasileiros é que gostavam de fazer isso) pedindo providências. Entre aqui e assine, clicando lá onde diz “act now”.
O outro se chamava Kevin Carter. Em 1993 ele tirou uma foto bastante impressionante, de uma criança africana daquelas raquíticas sendo observada por um urubu (clica aqui se quiser ver),
Ele era um fotógrafo conceituado, pois tinha feito parte do Bang-Bang Club, que documentou os conflitos do apertheid na África do Sul. Mas essa foto da criança ele fez no Sudão, quando foi documentar massacres e genocídios. Foi publicada pelo New York Times e ganhou um prêmio Pulitzer.
E a partir de então ele se viu envoltos em perguntas e críticas: “o que você fez para ajudar a criança? Bateu sua fotinha, ganhou seu prêminho, mas deixou a menina sendo devorada por aves terríveis?”.
Ele próprio passou a ficar atormentado com isso, e se criticava também:
- "É a foto mais importante da minha carreira mas não estou orgulhoso dela, não quero nem vê-la. Odeio-a. Ainda estou arrependido de não ter ajudado a menina..."
Pouco tempo depois, aos 33 anos, ele se suicidou, inalando o gás carbônico de seu carro.
Em 1996, a banda Maniac Street Preachers lançou uma música com o nome do fotógrafo. Obviamente, só porque ele se matou tragicamente e isso dá audiência (até por isso estou eu a falar dele). Se ele tivesse ajudado a criança ao invés de fotografar, ninguém teria dado bola.
Às vezes eu encontro boas idéias por aí. Às vezes nem é tão boa, mas me dá aquela pequena sensação "oh, por que eu não pensei nisso antes?". Pois tive este reflexo de inveja quando conheci o site Face your Pockets. O princípio é o seguinte: coloque o que você tem nos seus bolsos ou na sua bolsa sobre um scanner, junte seu rosto e escaneie. Não é genial?
Comprei uma revista Vogue RG, de 2003, pra ver as fotos. É uma edição dedicada ao carnaval e há vários ensaios fotográficos sobre o tema. Realmente muito interessantes.
Mas lá no início, numa pequena matéria que não segue o tema central, soube da existência do fotojornalista Kyoichi Tsuzuki. Ele fez, a partir daquele ano, uma exposição chamada "Happy Victims".
A exposição se constituía em 30 fotografias de pessoas que dedicam grande parte da vida em acumular roupas, acessórios e objetos de uma determinada marca, pela qual elas mantém uma espécie de fetiche. É como você só comprar na Renner, porque tem o cartão de lá. Só que eles compram porque querem realmente ter uma roupa Anna Sui, ou Dries Van Notten, e não porque são mais baratas e pode-se parcelar em cinco vezes.
No entanto, não são pessoas ricas. São jovens de classe média. Então, para poder comprar as caríssimas roupas eles passam a morar em apartamentos minúsculos, e não fazem mais nada da vida a não ser trabalhar para juntar grana e comprar coisas da sua marca preferida. Só que, como lembra o fotógrafo, elas não têm nenhum lugar bonito para ir, porque não têm mais dinheiro.
As fotos retratam essas vítimas felizes em seus cubículos, com as roupas espalhadas em volta. Com freqüência as pessoas estão borradas ou fora de foco, mas todos os casacos, saias, vestidos, sapatos, enchem o quadro com todas as cores.
Tudo absurdo, não é? Sim, mas além das fotos eu gostei das coisas que o fotógrafo diz. Vamos ver:
“Os do contra poderiam dizer que é mera insanidade gastar todo o seu dinheiro em roupas, que seria melhor gastar em livros ou discos ou... Na realidade trata-se simplesmente de hierarquia de coleções.”
E mais:
“Imagine um cômodo muito pequeno, a pessoa não tem muito dinheiro mas gasta todo o que tem em livros, e enche sua casa com livros, você não diria que é estúpido, certo? Mas um apartamento minúsculo cheio de roupas Dolce e Gabbana parece muito idiota, não? Esse é um grande preconceito nosso – a pessoa que gasta tudo em livros parece melhor do que a que gasta tudo em Dolce e Gabbana. Há uma hierarquia: livros têm a posição mais alta, depois discos, e a moda fica com um dos últimos lugares. Mas é tudo a mesma coisa. É o modo como sua paixão se manifesta.”
Eu fiquei pensando e acho que ele tem razão. No fim, todo mundo morre e esquece todos os Moby Dick que leu na vida.
E do nada eu soube que saíram cinco fotos minhas na revista Aplauso de maio. E como já estamos em junho, eu não consegui encontrar sequer um exemplar para comprar.
Fiquei feliz, pois fotos minhas já saíram em jornais, em revistas de empresas, em anúncios, em sites, mas em revista bacana de circulação aberta deve ser a primeira vez. Então, se alguém tiver a Aplauso do mês passado, com capa azul, por favor, venda para mim! Mas antes note as minhas fotos na matéria da página central, sobre os Concertos Zaffari.