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obnubilado

Blog que ainda existe, apesar do tempo.

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Blog que ainda existe, apesar do tempo.

Ih... era o primo?

Semana passada eu assisti ao Fantasma da Ópera. Sem querer entrar em detalhes negativos sobre a cafonice do filme, o pior de seus defeitos é a superficialidade. As coisas acontecem sem mais nem por quê, apenas porque os autores querem que aconteça, baseados nos grandes clichês “o vilão feio deve matar” e “os mocinhos bonitos devem se apaixonar”.

É essa também a sensação resultante dos primeiros 50 minutos do filme O Primo Basílio. Simplesmente é muito superficial. As coisas acontecem sem profundidade, só porque a mocinha deve se apaixonar pelo primo bonito e a empregada feia deve tirar vantagem disso. A relação dos dois primos não tem a menor sustentabilidade. E talvez não devesse ter se fosse um caso de final de semana, só sexo para matar o tédio. Mas não é assim, embora no filme não pareça e, quando Luisa arruma as malas para fugir da cidade com Basílio, tudo fica sem sentido. Como assim? Fudeu e quer fugir? Não entendi.

No filme ficou tudo mecanizado, automático e gratuito. Culpa do roteiro de Euclydes Marinho, que coloca uma cozinheira negra na casa só para poder dizer que “negro tem cheiro forte” (isso não está no livro, notem bem), ou culpa da edição apressada, típica de quem quer botar um elefante num kitnet?

Nem vou falar mal do Daniel Filho, pois acho que direção de cena e direção de atores ele fez com grande competência, nem da Glória Pires, que acabou dando um tom mais cômico do que trágico à Juliana, mas se saiu muito bem também. Nem vou falar mal dos protagonistas, nem da ótima direção da fotografia e, embora pudesse falar mal da música que não entra no ritmo das cenas e algumas vezes atrapalha, não vou fazer isso.

Gostei da cena de sexo no Paraíso e da nudez do casal, e detestei a cena dos fantasmas na sala e aquela luz sem nexo que “explode” na porta. E, claro, Simone Spoladore é sempre uma beleza.

Pílula vermelha

Bom, não resisti e fui obrigado a interromper a temporada de mau-humor do blog para dividir com as 200 pesoas que entram aqui todo dia (em busca de fotos do Antônio Fagundes pelado ou adolescentes transando) duas notícias velhas mas que para mim foram algo a me encher de esperança (TV a cabo nos engrandece o saber):
1) Um padre ficou tão comovido com os filmes Matrix que decidiu ele mesmo ser Neo. na verdade, ele já andava de batina preta, e isso ajuda bastante, foi só preciso adicionar uns óculos escuros. E então ele fez um pôster de si mesmo, com todo o visual Matrix, para divulgar a sua igreja. E disse coisas como "sei que um celibatário sendo herói parece estranho em nossa cultura, mas vejam só: os cavaleiros Jedi eram celibatários".  O cartaz ficou ótimo, mas creio que os Jedi não eram celibatários...

2) A trilogia Matrix foi criada e dirigida pelos irmãos Wachowski. Um deles, o Larry, trocou de sexo. Agora ele é mulher e se chama Lana, ou Linda, ou Laurenca (depende a fonte). Clique aqui para ver a transformação.

hurdy gurdy gurdy he sang

Quando iniciou Zodíaco, a primeira coisa que eu pensei foi: conheço esta música. Estava tocando Easy to be hard, uma das mais bonitas composições do musical Hair (que no cinema está em uma das melhores cenas desse gênero de filme: a mulher negra, linda, cantando, triste, depois de ser abandonada). Esta canção e aquela plano da janela do carro que vaga pelo bairro suburbano me fez ter uma ótima primeira impressão do filme que iniciava.

Zodíaco é repleto de músicas da época. David Fincher pouco usa música original (parte da música incidental é, inclusive, retirada de Todos os homens do presidente e de A conversação), e, com grande felicidade, pontua o filme todo com canções marcantes durante as três décadas que perpassam a película.

Pois depois de todas as músicas, quando acaba-se tudo, toca Hurdy Gurdy Man.

Há algumas músicas que, mesmo sendo executadas apenas nos créditos finais, quando as pessoas já estão se levantando e ligando o celular, marcam de alguma forma (vide My heart will go on). Poderia citar vários exemplos bem sucedidos, mas ficarei no mais atual, que é Tom Yorke cantando Analyse ao final de O Grande truque, que fecha o filme dentro de sua própria atmosfera, o que é muito louvável.

Isso também acontece quando acaba Zodíaco. Não haveria nada melhor para tocar ali do que Hurdy Gurdy Man. A letra é simples, curtinha, falando de um homem que de repente aparece cantando canções de amor, apesar de o mundo não estar lá essas coisas. A melodia, sim, que é a gema do ovo: belíssima, triste, profunda (sim, às vezes uma melodia é mais profunda que a letra, você sabe), e a bateria grandiloqüente arrepiando. O filme ganha muito ao acabar com essa canção. Foi com ela que a sensação sinistra que eu disse ter sentido se solidificou e para sempre estará presente.

(acho que dá para escutar um trecho aqui. não sei ao certo, pois não testei)


Era peruca

Daí, fim de semana passado eu fui assistir “Variações sobre a Morte de Trotsky”, na Usina do Gasômetro. É bem interessante a idéia da peça, tem um texto bacana (de David Ives), é engraçada, com atores esforçados e dura só 40 minutos. Vá lá ver, é na sala 309, sábados e domingos às 19h, de graça. Na saída eles pedem uma contribuição espontânea dos espectadores, afinal “a gente vive disso”. É bom avisar, porque senão o constrangimento estabelece-se. Mas você pode satisfazer seu espírito generoso com dois ou três reais, que tá ótimo.

Daí, quarta-feira fui assistir ao último filme do David Fincher, Zodíaco. A história – verdadeira – é bastante impressionante. O filme é longuíssimo, em certo momento peca pela incomunicabilidade com o público (pelo menos com o público brasileiro, que não se lembra mais onde foi que leu os nomes das pessoas que passaram pela tela durante as duas horas anteriores), mas não é nada menos que ótimo, principalmente por não tratar do assassino em si, mas das pessoas que foram afetadas por ele e daqueles que tentam obssessivamente descobrir quem ele é, sem grandes sucessos.

No final, saí do cinema assim, como dizer?, não triste, mas absorto numa atmosfera sinistra, não exatamente por causa dos assassinatos (que são poucos e no início), mas por causa da sensação de impossibilidade de resolver as coisas como deveriam ser resolvidas. Não há um momento de resolução; o suspense, o mistério, o medo gerado pelo criminoso não se desfazem e te acompanham.

A propósito, quem souber o nome da música que toca durante os créditos finais do filme, por favor me diga.

Um dos detetives que se esfalfam na investigação é intrepretado por Anthony Edwards. Ele era aquele médico careca, de óculos, que protagonizava a série ER, lembra? Pois no filme colocaram uns cabelos nele, parece outra pessoa, fiquei o tempo todo pensando “da onde eu conheço esse cara?” e só depois a ficha caiu.

Hércules

O Gabeira faz certa falta no filme. Não sei por que ele não participou (li por aí que ele não foi convidado por ter tido participação pequena), mas sendo o autor do livro que explica o seqüestro sua ausência é sentida. No entanto, para quem gosta de uma celebridade, tem lá o Franklin Martins dizendo que com certeza ia executar o embaixador. E José Dirceu, achando absurdo ele próprio ter voltado ao Braisl e ter entrado para a clandestinidade após se ver são e salvo em Cuba.


Hércules 56 é um documentário dirigido por Silvio Da-Rin e fala sobre o episódio do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick (se você viu o fraquinho O que é isso companheiro? – ou leu o livro do Gabeira – sabe do que estou falando). O filme pode ser dividido em três segmentos: 1) a reunião de cinco dos seqüestradores para a rememoração do acontecido; 2) depoimentos dos nove presos políticos ainda vivos libertados pela ação de troca com o embaixador, que foram embarcados no avião Hércules 56 rumo à América central, com a nacionalidade cassada; 3) imagens da época, inéditas até então no Brasil, em que vemos os libertados no México e, depois, em Cuba, com Fidel Castro e tudo.


O filme é interessantíssimo para quem conhece um pouco da história (quem não conhece vai ficar perdido com siglas, nomes, referências e fatos) e faz uma reflexão do seqüestro ao mesmo tempo em que faz os personagens envolvidos avaliarem suas ações na época – quase todos hoje em dia acham que fizeram coisas absurdas e desastrosas.

Fui ver o documentário especialmente para tentar decifrar quem eram aquelas pessoas na famosa foto em frente ao avião. Só conhecia os mais óbvios, os outros eram apenas figuras algemadas. O diretor faz - e muito bem – essa função de revelar aquelas pessoas, contar-lhes um pouco das idéias e dos motivos pelos quais foram reunidas, sem se conhecer, pela maior ação revolucionária no Brasil até então.

Aqui tem o trailer, com cenas e trechos do manifesto publicado nos principais jornais (a primeira exigência dos seqüestradores).

A Record é moderna

Me surpreendo às vezes. Pois a Record colocou no ar uma campanha a favor da legalização do aborto. O dia da estréia das peças na TV foi o mesmo dia da chegada do Papa ao país. Segunda-feira a emissora ainda levou ao ar o Repórter Record a respeito do assunto. Falando com mulheres - inclusive com o grupo "Católicas pelo direito de decidir" - que fizeram aborto em clínicas clandestinas e contando seu sofrimento em não ter assistência médica adequada, o programa foi indo, indo, até acabar concluindo que o aborto diminui a violência das grandes cidades (tomando como base um estudo feito em Nova Iorque). A emissora do bispo está cada vez melhor. E não estou colocando ironia nesta afirmação (ok, talvez um pouco).

Maria Antonieta

Em homenagem ao aniversário de 237 anos do casamento de Maria Antonieta e Luís XVI, comemorados hoje, deixo aí uma foto da Kirsten Dunst, que tão interessantemente fez a rainha no cinema. (Clique na foto para cair no MySpace da diretora)

Na verdade, a foto tem outra desculpa: queria falar que eu vi o filme e gostei, já que não quis fazer um texto especialmente a respeito. Achei a visão da diretora apropriada, o roteiro esperto, a atuação da Kirsten acima do esperado, e, claro, os cenários (muitos em locações originais) são belíssimos e os figurinos vão além do simples gigante-vestido-em-forma-de-bolo-com-rendas. Além disso, acaba no momento certo, não mostra tragédias – o que seria completamente fora do tom.