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obnubilado

Blog que ainda existe, apesar do tempo.

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Nothing´s gonna change my world...

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Fui ao teatro. Nem queria escrever a respeito, mas pensei que há tão exíguos lugares na internet onde se pode ler uma opinião a respeito de teatro que resolvi dizer o que achei. Pode ser útil pra quem quiser assistir a peça, que vai estar em cartaz ainda hoje e amanhã, no Theatro São Pedro.

Bom, a peça é Baque, do norte-americano Neil Labute, dirigida por Monique Gardenberg. É assim: 3 monólogos (na verdade o do meio tem dois atores, mas eles não dialogam, o que acaba sendo um monólogo também). Nunca tinha visto monólogo dramático. É bastante incômodo. Os atores falam olhando ou pro nada ou pra platéia. Não há descanso, não há a resposta. É eles lá e nós aqui. O primeiro monólogo é com Emílio de Melo. Ele sentado em uma cadeira, num bar, conversando com um homem (nós, no caso). Ele conta um pouco sobre sua vida de executivo. Nada me comoveu (tava achando bem chato, inclusive) até que ele começa a falar da esposa, da filha recém-nascida. E da morte da filha recém-nascida. E depois ele esclarece um pouco mais a morte da criança. E ainda um pouco mais. Ficamos desconcertados. Primeiro baque.

O segundo é com Carlos e Débora Evelyn. Não falam entre si, mas contam a visão de cada um sobre o que aconteceu. São pessoas felizes, festidos para uma festa que aconteceu no Copacabana Palace. Eles falam sobre seu relacionamento amoroso (namoram há seis anos e vão ficar noivos), sobre a viagem que fizeram para o Rio com uns amigos. Falam sobre a festa. Ele fala sobre o que fez depois da festa. Fala sobre um homem na praia. Sangue na camisa. Um anel de ouro. Segundo baque.

O terceiro é Débora Evelyn frágil, magra, linda, sentada em uma mesa em uma delegacia, falando sobre o que a levou até ali. Ela chegou algemada, logo sabemos que provavelmente não foi ela a vítima. Bom, de certo modo, talvez até tenha sido. “Esta história não tem nada de especial. A única coisa interessante nela é que aconteceu comigo”, diz ela. Então conta sobre o abuso que sofreu do professor no aquário de tubarões. Depois, do beijo que deu nela no carro. Da relação que eles mantiveram, do filho que ela teve. O homem foge. Ela cria o filho. Catorze anos depois de reencontram, num hotel, os três. Billy Holliday no toca-fitas. Terceiro baque.

As três histórias são muito angustiantes, porque começam falando de banalidades e te arrastam até a sordidez humana. Todos os atores estão ótimos. Entretanto Débora, na última parte, não fica muito natural. Ela força a voz e o vocabulário, porque sua personagem é uma mulher dura e sofrida, mas não chega a convencer como sua personagem anterior. Mesmo assim percebemos todo o esforço que ela faz, como ela se dá pro papel (tanto que na hora dos aplausos ela aparentava estar exausta - e triste), todo sua linguagem corporal fortíssima, mesmo ficando o tempo inteiro sentada (de perna aberta numa minissaia de brim - as calcinhas brancas aparecendo).

Peça interessante, um exercício de paciência (monólogos cansam, às vezes são bem monótonos...) e compreensão (como entendemos - se entendemos - aquelas pessoas? Elas são ruins? O que é uma pessoa "ruim'?). Três cenários simples e bonitos de Isay Weinfeld. Na terceira parte, Débora Evelyn fuma algumas vezes enquanto fala. A fumaça vai lentamente se dispersando, como um balão inchando de ar, diluindo-se sob a luz branca do holofote.











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