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obnubilado

Blog que ainda existe, apesar do tempo.

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Cada um tem o inferno que lhe cabe

O que me causou maior impressão quando vi o trailer de Diário de Um Novo Mundo foram as belas imagens e a trilha sonora. Ao assistir ao filme, hoje, essas boas impressões não foram desfeitas. As imagens são lindas mesmo, numa fotograia bem cuidada, com belos movimentos de câmera, ângulos e sombras. Só o baixo contraste das imagens me fez estranhar tudo, mais pela sua inesperada presença constante do que por sua qualidade boa ou ruim. Quanto à trilha sonora, de Duca Leindecker, é muito, mas muito excêntrica por usar guitarras elétricas num filme que se passa no século XVIII. Isso é louvável, sai-se do lugar comum para construir sons inesperados. O que não é louvável é a trilha se sobrepor ao que vemos na tela, atrapalhando as imagens - o que acontece diversas vezes.

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O roteiro se baseia no livro do Assis Brasil, Um Quarto de Légua em Quadro, sobre um médico açoriano que chega ao sul do país junto com colonos. Por aqui, ele acaba se apaixonando pela esposa de um oficial do exército de Portugal, eles têm um caso e isso não vai ser muito interessante na vida deles. Ou vai, dependendo do grau de otimismo que cada um tem dentro de si. Como ator, Edson Celulari lembrou-me Maitê Proença em Tolerãncia. Não por seu belo espartilho preto, mas por mostrar-se um ator até competente, ao contrário do que se vê na televisão, onde seus cacoetes repetem-se de trabalho em trabalho. Como Maitê, ao ser dirigido competentemente numa história com substância, ele pôde fazer o seu melhor. Daniela Escobar, que eu sempre acho ótima, infelizmente não tem muita chance de demonstrar suas habilidades. Mesmo assim, acho que poderia ter feito um pouco mais, principalmente se tivesse mexido com sua fala. Uma dicção perfeita e sussurrante me soou um pouco fora do contexto.

Ademais, é uma grande produção com boa direção que não cai em clichês e consegue colocar todas as qualidades em ordem, para que se sobressaiam aos pontos fracos. Já como ponto fraco, fraquíssimo, vejo o aparecimento repentino e sem lógica de Ney Matogrosso (é!) recitando um poema, como se fosse um tipo de consciência ou oráculo do protagonista. Além disso, o final é completamente desnecessário. Um padre com um carrão chegando na Unisinos, sinceramente, não dá pra levar a sério (não porque padres não possam ter carrões, mas porque não tem nada, mas nada mesmo a ver com nada). Se tivessem acabado 3 minutos antes o resultado seria bem mais interessante.