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obnubilado

Blog que ainda existe, apesar do tempo.

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Esperando nas esquinas

Há dias quero escrever um texto em homenagem ao travesti que eu vi na Farrapos e sempre esqueço. Era madrugada, ele estava parado em uma esquina, sozinho, de blusa branca e uma tanga fio-dental que nem na praia se encontra.

Não tenho o que dizer sobre ele, apenas queria deixar expressa minha admiração por sua coragem de ficar ali, exposto, a noite toda, provavelmnete todas as noites, no frio, agüentando todo o tipo de provocações, xingamentos, agressões verbais e não-verbais, esperando um cliente que misteriosamente se esconde atrás do vidro do carro.

Admiro sua coragem de entrar nesse carro e ir sabe-se lá para onde, sabe-se lá para quê.

Ele e todos os seus colegas, e suas colegas prostututas, que esperando ficam nas esquinas. São meus ídolos.

Babá no poste

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Em um poste no paço municipal (ali, aquela pracinha em frente à prefeitura), uma pessoa esforçada amarrou este pequeno cartaz: Cuido de Crianças. Simples e direto.

Provavelmente não eficiente, porque está a masis de 2 metros de altura em um lugar onde ninguém tem motivo para olhar pra cima. Ao contrário, todos ficam cuidando as ciganas que atacam quem passa.

Então, se você tiver crianças em casa e quer se livrar delas, ligue para 3228-8794 e diga que viu o anúncio no poste. Alguém vai ficar contente.





Hoje ele tem casa

Moro na Rua da Praia, em Porto Alegre, e aqui, debaixo da marquize de um prédio, todas as noites dormia um homem horrível, com bexigas no rosto, cabeludo, muito nojento, nem dava aquela vontade normal de ajudar. Ele olhava para quem passava como quem não tem nada a dizer.

Há mais ou menos dois meses ele não dorme mais ali.

Um dia, me deparo com ele, durante a tarde, de cabelo cortado, barba feita, vendendo café e outras bebidas aos camelôs que na praça da alfândega passam seu tempo. Ainda estava um pouco bexiguento (eu não compraria nada com ele), mas transparecia estar se sentindo bem melhor do que antes.

Hoje, vejo ele passando em frente ao meu prédio, de mãos dadas com uma mulher. Já sem perebas no rosto, camisa pólo amarela, conversando. Isso me fez ter curiosidade pela vida do cara, quem ele é, de onde veio, em que lugar mora agora que, parece, saiu da rua.

Talvez o amor tenha sido sua salvação. Talvez aquela mulher o ame e por isso o levou pra sua casa e agora vivem felizes.

Ou talvez aquela mulher tenha vivido sozinha por muito tempo e, com medo de morrer como Eleanor Rigby, decidiu juntar-se com o indigente.

Sorte dele. Ou dela.

Incêndio no viaduto

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Saí pra almoçar hoje, como em qualquer dia, mas nas ruas em que eu passava, coisas aconteciam.

Na Andrade Neves, a rua lotada, policiais interditando uma quadra por causa de um assalto a uma joalheria.

Vou andando e, na Borges, fumaça saía de baixo de uma daquelas lojas do viaduto. Pessoas passavam e admiravam, algumas ficavam de braços cruzados olhando.

Almocei e quando fui pagar lembrei que não tinha levado dinheiro. Falei com a Lurdes, que atende no caixa, e fui correndo pro banco sacar a grana. Passo pelo viaduto de novo e a fumaça continua a infestar a rua.

Quando estou retornando do banco, os bombeiros chegam, tentam romper a corrente que tranca a porta, mas o aparelho-de-romper-correntes estraga. Enquanto tentam consertar, um deles vai forçando o cadeado com um pé-de-cabra, sem sucesso.

O aparelho funciona (é um troço que parece uma broca, que, pelo que percebi, serve pra cortar ferro), só que sai mais fumaça do motor do que do incêndio. Conseguem abrir a corrente, entram na loja, ligam a mangueira e molham as pessoas que estão por perto, tentam arrancar uma das lâminas da porta e não conseguem, apagam o fogo, recolhem a mangueira, curiosos perguntam o que aconteceu, todos vão embora.

Quando saio do restaurante e me dirijo pra outro local, vejo um acidente na perimetral. Um carro completamente amassado, ambulância, polícia, pessoas em volta.

Só não vi Hebe Camargo, que passou o domingo na cidade.

















Look at all the lonely people

Eu não conhecia nada até escutar Eleanor Rigby.

All the lonely people,
Where do they all come from?
All the lonely people,
Where do they all belong?

Eleanor Rigby
Died in the church and was buried along with her name.
Nobody came.
Father McKenzie
Wiping the dirt from his hands as he walks from the grave.
No one was saved.


(trecho de música dos Beattles)

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